Extinção
de animais pode agravar efeito das mudanças climáticas
Ausência
de espécies frugívoras de grande porte pode interferir no processo de sequestro
de CO2 da atmosfera
A extinção de animais frugívoros,
que se alimentam sobretudo de frutos, como antas, cutias e muriquis poderá
comprometer a capacidade das florestas tropicais de absorver dióxido de carbono
(CO2) da atmosfera. Isso porque a extinção desses animais capazes de
dispersar sementes de frutos grandes mudaria a composição das florestas,
afetando seu potencial para combater alterações climáticas. A relação foi
observada por um grupo de pesquisadores de várias instituições brasileiras e internacionais
sob coordenação do biólogo brasileiro Mauro Galetti e sua orientanda de
doutorado, Carolina Bello, ambos do Departamento de Ecologia da Universidade
Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, interior de São Paulo. Em um artigo
publicado nesta sexta-feira, 18, na revista Science Advances, eles
relacionam a composição e a abundância de espécies de árvores, bem como o tipo
de dispersão de suas sementes, à padrões de dureza da madeira e altura. Essa é
uma maneira de medir o quanto uma árvore pode estocar carbono.
Os pesquisadores estimaram a
perda da capacidade de estoque de CO2 na Mata Atlântica a partir de
diferentes cenários de defaunação, como é conhecida a diminuição acentuada da
população de animais em um ecossistema, em geral induzida por atividades
humanas como desmatamento e caça ilegal. Ao simular a extinção local de árvores
que dependem da dispersão de suas sementes por grandes frugívoros na Mata
Atlântica, os pesquisadores verificaram que a defaunação comprometeria
significativamente a capacidade de armazenamento de CO2 pela
floresta. Esses animais, há algum tempo se sabe, cumprem funções importantes em
relação às plantas, seja por polinizar as flores ou por comer os frutos e
dispersar as sementes, favorecendo a regeneração natural das florestas.
A
extinção de animais que se alimentam sobretudo de frutos, como os muriquis,
poderá comprometer a capacidade das florestas tropicais de absorver CO2 da
atmosfera
No estudo, a equipe de Galetti
observou que árvores com troncos grandes e duros têm sementes igualmente
grandes. Logo, quanto maior a semente, tanto maior será a árvore. Árvores
grandes, por sua vez, são capazes de sequestrar e armazenar maiores quantidades
de carbono. Por meio de simulações computacionais, os pesquisadores verificaram
que à medida que dispersores de sementes grandes eram progressivamente
extintos, também as árvores grandes tornavam-se menos abundantes. Em outras
palavras, na ausência de antas, bugios e muriquis, a floresta mudava para uma
composição de espécies de árvores de sementes pequenas e madeira “mole”. Com o
tempo, segundo eles, a tendência é que somente as sementes menores sejam
encontradas na natureza, em um efeito cascata induzido pela ação humana que
pode desencadear mudanças ecológicas significativas. “As sementes de canelas,
jatobás e maçarandubas, por exemplo, são grandes e dispersadas apenas por
animais grandes, como antas e muriquis”, diz Galetti. “Essas árvores são as de
madeira mais nobre e as que estocam mais carbono”, explica.
A Mata Atlântica é um dos mais
degradados ecossistemas brasileiros, do qual restam, segundo algumas
estimativas, aproximadamente 12% da cobertura original – mais de 80% da
vegetação remanescente encontra-se altamente fragmentada em áreas com menos de
50 hectares. De acordo com os pesquisadores, o mesmo raciocínio que eles
aplicaram à Mata Atlântica pode ser extrapolado para outros ambientes, como o
amazônico, cujas espécies de árvores que retêm até 50% de CO2 da
atmosfera dependem em grande medida da dispersão das sementes por frugívoros de
grande porte. Segundo eles, os resultados ressaltam a importância de se
considerar os animais como parte fundamental no processo de redução de emissões
de gases do efeito estufa por meio do armazenamento de carbono em florestas
tropicais.
Projeto
Ligando defaunação e os serviços de ecossistemas de armazenamento de carbono em florestas atlânticas (nº 2013/22492-2); Modalidade Bolsa no país — doutorado; Pesquisador responsável Mauro Galetti Rodrigues (Unesp); Bolsista Laura Carolina Bello Lozano (Unesp); Investimento R$ 140.088,00 (FAPESP) - Artigo científico
BELLO, C. et al. Defaunation affects carbon storage in tropical forests. Science Advances. dez. 2015.
Ligando defaunação e os serviços de ecossistemas de armazenamento de carbono em florestas atlânticas (nº 2013/22492-2); Modalidade Bolsa no país — doutorado; Pesquisador responsável Mauro Galetti Rodrigues (Unesp); Bolsista Laura Carolina Bello Lozano (Unesp); Investimento R$ 140.088,00 (FAPESP) - Artigo científico
BELLO, C. et al. Defaunation affects carbon storage in tropical forests. Science Advances. dez. 2015.
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