Crise do Amapá deverá atrasar as reformas do setor de
energia
As crises
energética e política do Amapá prejudicarão “tanto em tempo quanto em
qualidade” o processo de modernização do mercado regulatório do setor elétrico
brasileiro. A afirmação é de Edvaldo Santana, profissional de carreira no setor
elétrico, com 17 anos na Eletrosul, subsidiária da Eletrobras e mais 13 anos de
carreira na Agência Nacional de Energia (Aneel), instituição em que foi diretor
de 2005 a 2013.
Santana
participou de live promovida pelo Portal CanalEnergia na manhã
desta sexta-feira, 20 de novembro. “Tudo isso vai ser objeto de grandes
negociações e discussões paralelas e tende a travar tudo isso ou piorar o que
já estava no limbo”, disse o executivo.
O
evento foi transmitido ao vivo pela TV CanalEnergia no Youtube, sob o tema
Apagão no Amapá – As Consequências para o Setor, mediado pelo jornalista
Maurício Godoi. O mercado aguarda que a qualquer momento ocorra a reversão de
uma decisão judicial concedida ontem (19/11), que determinou o afastamento, por
30 dias, das diretorias da Aneel e do Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS). A ação de afastamento foi encabeçada pelo Senador Randolfe Rodrigues
(REDE-RO).
O
debate também contou com as participações do advogado Raphael Gomes, sócio e
especialista em direito regulatório do Demarest Advogados; e de Délberis Lima,
diretor do Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-RIO.
Santana
“não tem dúvidas” de que a agenda legislativa do setor elétrico será afetada.
“É nessa hora que o meio politico se aproveita para colocar jabutis. As emendas
prejudicarão não o tempo de tramitação dos projetos em curso, mas também na
qualidade do texto final de modernização do setor”, disse.
O
professor Lima lembra que a modernização do mercado de energia elétrica é
aguardada há muito tempo. Esse processo começou a tomar mais corpo durante a
gestão do ex-presidente Michel Temer e até o momento não se tem uma definição
por parte do Congresso Nacional.
“Temos
que ter muito cuidado com a politização desse tipo de evento, porque o setor
elétrico trabalha há muito tempo no processo de modernização”, reforçou. “Acho
que esse tipo de evento deveria acelerar o processo de modernização. Devemos
discutir a coordenação que existe entre os diferentes agentes para que
situações como a do Amapá não ocorram dentro do planejamento e operação do
sistema”, opinou o especialista.
Considerando
o texto da ação liderada por Randolfe, o advogado Raphael Gomes disse que os
“termos midiáticos” que dão base a liminar que pede o afastamento dos
dirigentes da Aneel e do ONS sinalizam para uma tentativa de sobreposição de
poderes ao sugerir a criação de um comitê para controlar e gerir a crise
energética no Amapá.
“Ao
invés de analisar as responsabilidades e imputar as sanções cabíveis para quem
foi responsável, você acaba criando mais sobreposição de regulação,
ineficiência e retira o poder da agência reguladora, desfigurando a teoria da
regulação”, explicou o advogado. “A base da teoria da regulação é ter uma
agência que equilibre os interesses do governo, dos empresários e da sociedade
como um todo, buscando ser a mais isenta possível.”
Além do
processo de criação de um novo marco regulatório para o setor elétrico, o
Congresso também discute novas regras para o mercado de gás, enquanto a Aneel
trabalha para concluir o acordo para encerrar uma disputa judicial
que impede a liquidação de quase R$ 10 bilhões no mercado de curto prazo
na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
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